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Foto do escritorCarolina Ribeiro

cosmos

Atualizado: 3 de out. de 2019

Esta é uma carta de amor. Não vejo maior homenagem, do que a expressão (ou tentativa da mesma) do sentimento que flui através dos meus neurónios. A todas as caras que, nos meus meros e insignificantes dezasseis anos de existência, contemplei. A todos os elementos deslumbrantes da Natureza, que constroem perfeitas expressões a meus olhos. A todas as ondas de som que, magnificamente combinadas, chegaram aos meus ouvidos. A cada porção de ar que já inspirei, e devolvi posteriormente ao mundo que me rodeia. A cada átomo de oxigénio, nitrogénio, e carbono, presentes nessa minúscula porção. A cada composto de ácido desoxirribonucleico presente no meu ser, definindo precisamente a essência do que eu sou. A mim, e à humanidade que é tão, mas tão pequena. A cada objeto em que toquei, ou senti a ilusão de que toquei, porque na verdade, nunca o cheguei a fazer. Ao conhecimento que me concedeu a consciência disso. Ao ser único, diminuto, mas de complexidade sublime que foi capaz de me transmitir esse conhecimento, e a todos os que vieram antes dele. Aos livros. A todo o conhecimento que perdura ainda por adquirir, e por todo o que assim permanecerá. A cada planta existente na superfície terrestre, e à junção de todas estas, permitindo a evolução como a conhecemos. A todos os oceanos. Ao aglomerado esférico de silicatos e metais onde a raça humana prosperou. À estrela fulgurante à volta da qual orbito, e à galáxia que a contém, juntamente com mais 100 mil milhões de outras. Ao colapso da estrela de que somos todos feitos. À crescente vastidão. Ao vazio. À beleza inimaginável de tudo o que já existiu, existe, ou alguma vez existirá. Existem tantas estrelas no universo como o total de células existentes em todos os seres humanos do nosso planeta. Se uma só deu origem a tanto, o que mais poderá existir? Tantos mundos que chegaram ao fim, e tantos mundos à espera de ser criados.

Esta é uma carta de amor ao Cosmos. Esta é uma carta de amor à ordem que compreende o meu caos.



Esta é uma carta de amor à consciência. Eu estou aqui, agora. Eu estou viva. Nasci com a capacidade de pensar, e penso. E sinto cada arrepio alastrar-se pela superfície de tudo o que sou, e as lágrimas escorrerem-me pela face. Eu estou viva. Cresci na companhia de um sentimento imenso de vazio, de alienação e distanciamento perante a totalidade do que me rodeia, de uma falta de propósito, de um trilho encoberto. Esta é uma carta de amor à ciência, pois sem esta, nada seria eu. Esta é uma carta de amor à ciência, uma vez que esta me atingiu como um relâmpago atinge uma torre durante uma tempestade, e desta forma, acendeu uma vela no meu caminho. Este é um agradecimento, com a mais profunda sinceridade possível, à audácia de quem a estudou, e de quem a transmitiu por gerações incontáveis; pois sem a ciência, nunca poderia ter percebido, e aceitado o meu tamanho, a minha vivência, o meu lugar no vasto universo; que é, nada mais, nada menos do que o que eu fizer dele. Reconheço a sorte em estar viva. Apaixono-me pela mais pequena das partículas, e pelo conjunto de tudo o que estas concebem. Como poderia não? Nada provoca maior satisfação à minha pobre alma que a perceção de que somos todos e tudo descendentes de estrelas. À escala do cosmos, todas as questões e dilemas do quotidiano tornam-se desprezíveis. Nada disso importa na vastidão do universo, e isso traz-me uma serenidade colossal. Em contrapartida, os átomos que constroem as moléculas que formam cada ser humano, tiveram origem num pequeno ponto que se expandiu, originando tudo o que hoje conhecemos, e o que temos ainda por descobrir. De certa forma, somos gigantes, sistemas complexos de interações por sinapses. Cada um de nós alberga um universo dentro de si. Sinto uma sensação crescente de maravilha. Não existem palavras suficientes nas 7000 línguas humanas para descrever e expressar o amor que eu sinto. Obrigada.

Not explaining science seems to me perverse. When you’re in love, you want to tell the world. – Carl Sagan

07/01/2018

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